Li Ensaio Sobre a Cegueira em uma semana. Mergulhei, viajei, me joguei no livro a ponto de no domingo, dia em que eu li mais de 100 páginas numa única tarde, sair de casa e ter a sensação de que estava saindo do livro. Eu precisava sair de casa depois de ler tanto.
Nesse dia li as páginas em que as mulheres tiveram de ''ganhar'' a comida na quarentena. Foi tão chocante pra mim a leitura que escutei da minha prima que eu estava acabada, sem vida, sem brilho naquele dia. Talvez eu tenha sentido na leitura o que qualquer mulher sente ou sentiria numa situação dessa.

Sempre fui assim, de me jogar em tudo o que me disponho a ler. Quando tinha 12 anos, peguei O Exorcista para ler. Li. Lembro-me que meu pai disse “esse livro não é para criança’’. Levei-o para a cabeceira da minha cama e comecei a leitura. Depois de algumas páginas entendi que o livro não era mesmo para criança, ainda assim, levei ele de volta para o escritório no fundo de casa e ia todos os dias depois do almoço ler a história mais horripilante do mundo. Até hoje não assisto filmes de terror e sei o significado e o cheiro da palavra chucrute.
A imaginação é infinitamente melhor do que qualquer produção de hollywood. Principalmente na leirura. Afinal, ''o que não vemos imaginamos infinitamente pior, maior ou melhor". E não me arrependo de ter, no domingo, estado junto com a mulher do médico e de todas as outras cegas naquela cela em que um homem morreu.