quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Inquietude


Não li Ensaio Sobre a Cegueira e não me arrependo de não o ter feito até hoje. Agora tenho pressa em fazê-lo. Não sei se é idade ou maturidade, mas muitas coisas começam a fazer sentido só agora. Ler Saramago nesse momento faz muito mais sentido do se eu tivesse feito isso antes. 

Outro dia, compartilhando a ideia de que nós nunca damos valor para o que aprendemos no momento em que aprendemos, escutei de uma amiga que deveríamos ser como Benjamim Button. Isso faz todo o sentido e com certeza aproveitaríamos a vida muito mais e com bem menos arrependimentos. Digo isso no geral, pois, arrependimento é uma palavra que eu não gosto de aplicar no meu dia-a-dia. Fez, tá feito! Se der certo felicidade, se não experiência. Arrependimento deve ser escolher viver na dúvida do E SE EU TIVESSE FEITO. 

Viver é isso, arriscar-se. Respeito quem discorda, peço respeito a minha opinião. O contrário de arriscar-se é apenas viver sem enxergar. 

É aqui que entro onde queria chegar. Nos últimos meses a pergunta "quem leu Ensaio Sobre a Cegueira?" tem sido martelada em minha cabeça. Preciso ler, preciso ler esse livro, eu penso. E nada. Hoje a ideia principal do livro de José Saramago, que virou filme de Fernando Meirelles com Julianne Moore, me fez refletir sobre muitas coisas. Tanto no ambiente profissional (esse era o objetivo. Alcançado!), quanto na vida pessoal. 

Desde que decidi arriscar-me nunca mais tive paz. Ou nunca mais fui cega. Eu AINDA não li o livro, mas no trailler, quando a personagem de Julienne diz "tenho medo de enxergar", faz todo sentido para mim. Me identifiquei. Enxerguei e agora tenho medo de continuar enxergando. O medo paralisa. "O medo cega. O medo nos cegou. O medo nos fará continuar cegos". É tão óbvio e simples, mas porque o óbvio nem sempre é óbvio e o simples é sempre tão complicado?

Ter olhos em um mundo de cegos é tão desconcertante quanto não sofrer de normose em um mundo de hipocrisia. É difícil, tem um preço (julgamento), às vezes machuca, mas, em contrapartida é libertador e desafiador. 

Largue o comodismo. Atreva-se a inquietar-se na dúvida. Abra os olhos.